Estratégias sobre fluídos refrigerantes são debatidas por supermercadistas

Representantes de redes supermercadistas como GPA, Coop, Zaffari e São Vicente e players da cadeia de refrigeração debateram durante todo o dia de ontem (20/10), no Workshop Gases Refrigerantes no Varejo, as melhores alternativas futuras em fluídos refrigerantes. Entre as alternativas, os fluidos naturais, especialmente o CO2, foram apontados por unanimidade como a melhor opção atual e futura para o setor, apesar dos desafios referentes ao alto custo de investimento inicial e à falta de mão de obra capacitada no País.

Os primeiros palestrantes a falarem foram os representantes do Ministério do Meio Ambiente: Frank Amorin e Magna Luduvice, que trataram sobre a evolução do Programa Brasileiro de Eliminação dos HCFCs e sobre a grande novidade atual que é a recente emenda ao Protocolo de Montreal, aprovada na MOP 28, em Kigali, no último dia 15, que definiu a redução progressiva também dos HFCs, com congelamento do consumo no Brasil a partir de 2024.

“O Protocolo de Montreal é o acordo bilateral mais bem-sucedido do mundo, com resultados efetivos. Daí a enorme repercussão que essa emenda, que o Brasil junto com os demais países-parte aprovaram, é tão importante. Vamos debater com o setor como se dará o cronograma de redução dos HFCs, mas a eliminação futura já é certa, daí a importância dos supermercados pensarem em alternativas que não agridam nem a camada de ozônio nem tenham alto potencial de aquecimento global”, disse Magna. 

Em seguida, Stefanie von Heinemann, da Cooperação Alemã para o Desenvolvimento Sustentável – GIZ (Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit – GIZ – GmbH), falou sobre a implementação do Projeto para o Setor de Serviços do PBH que tem foco na redução de vazamentos dos HCFCs. A gerente de projetos da GIZ/Proklima no Brasil informou  que até hoje mais de 5 mil técnicos refrigeristas foram capacitados em todo o País nos Cursos de Boas Práticas em Refrigeração Comercial e que já está disponível para uso de todo o varejo um sistema de controle gratuito de HCFC-22 (www.ozoniohcfc.com.br).  “Muitos supermercadistas tem apoiado o nosso trabalho, enviando seus técnicos para treinamento e utilizando o sistema Pró-Ozônio. Mas é importante que mais empresas participem”, afirmou Stefanie.

O terceiro palestrante do dia foi Clovis Zapata, da UNIDO, Organizações das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial, que falou do projeto de apoio ao setor de manufatura de refrigeração do País, com investimentos de R$ 11,2 milhões até 2021, principalmente focado em disseminação de tecnologias de baixo impacto no sistema climático global.

Ignácio Gavilan, do Consumer Good Fórum, que reúne 400 membros da indústria mundial, incluindo grandes grupos do varejo, e tem foco na orientação de estratégias voltadas à sustentabilidade, foi conclusivo em sua palestra: “Nossa visão é passar direto para os refrigerantes naturais (sem focar em alternativas como os HFOs). Da parte da indústria, queremos liderar essa mudança, fazendo-a acontecer o mais próximo possível”, disse.

Guilhermo Rocha, da Frigo Consulting, empresa com atuação em toda a Europa, concordou: “Sempre que há uma tecnologia nova o preço é maior no começo, mas a tendência é diminuir. Hoje os varejistas devem traçar uma estratégia clara e já passar para o CO2, evitando os refrigerantes sintéticos”, disse.

Rogério Marson, da Eletrofrio, maior fornecedor de equipamentos refrigerados do setor, confirmou essa tendência, em sua palestra. “Em seis anos o setor de supermercados conseguiu zerar o HCFC-22 em instalações novas. Hoje mais de 120 lojas já utilizam o CO2 com sistema subcrítico.  Agora temos outro desafio que é zerar os HFCs. Temos que iniciar uma nova batalha”, disse, apontando alternativas como o maior uso de outro fluído natural: o propano.

Cases de varejo

Mediados por Josilene Ferrer da Cetesb representantes do setor supermercadista debateram sobre suas experiências e apontaram alternativas tanto para a redução do consumo do HCFC-22, quanto em novos fluídos a serem utilizados.

Veja a seguir uma síntese:

  • GPA – Luiz Moreno, responsável pela área de manutenção da companhia, falou especialmente sobre o empenho em reduzir vazamentos de HCFC-22. “Apesar das novas alternativas, que já estamos testando, a maioria das lojas do Grupo ainda é com HCFC-22 e, portanto, nossa prioridade é reduzir vazamentos. Nossa meta inicial este ano era economizar em torno de 6%. Já conseguimos economizar 20%, até este mês de outubro, com esse trabalho”, disse.  Segundo ele, além de capacitar constantemente sua equipe e a de loja, são utilizadas equipes caça-vazamentos e sistemas tecnológicos, para detecção e correção rápida dos problemas.
  • Zaffari – Aroldo Lima falou do pioneirismo da rede, que atua no Rio Grande do Sul e em São Paulo, no uso de refrigerantes naturais (especialmente a Amônia utilizada em sistema selado em seu centro de distribuição) e sobre o foco atual em CO2. “As próximas duas lojas que vamos inaugurar serão com CO2”, disse. Segundo ele, as empresas do setor precisam estar atentas também ao processo construtivo,  realizando e aplicando bons projetos. Além da atenção ao tipo de fluído a ser utilizado, à qualidade da mão de obra, e à manutenção preventiva e eficiente.
  • São Vicente – Thiago Pietrobon, da Ecosuporte, falou do trabalho realizado na Rede São Vicente, do interior de São Paulo, focado na redução do consumo do HCFC-22 e também nas novas alternativas de fluidos a serem utilizadas. “Realizamos um inventário detalhado de todo o parque refrigerado instalado nas lojas, com foco principalmente na detecção de vazamentos e agora estamos definindo custos e prioridades”, disse.  Thiago também falou sobre o início do Projeto Demonstrativo, realizado no âmbito do PBH em parceria com o MMA e a GIZ, em uma loja do São Vicente, que irá permitir que a instalação de HCFC-22 funcione de forma selada, evitando vazamentos, e poderá no futuro servir de exemplo a outras redes.
  • Coop – Marco Feresin, responsável pela área, falou da aposta da rede nos refrigerantes naturais como a melhor alternativa ao HCFC-22. Nos últimos anos a rede só tem inaugurada lojas com CO2 e com ilhas-self que utilizam propano. “Hoje conseguimos manter sistemas mais precisos, com menor custos de manutenção e também de investimentos. Os fluídos naturais são melhores que qualquer fluido sintético”, disse. A rede também investe na redução do HCFC-22, realizando retrofit em 14 lojas e investindo em sistemas eletrônicos, que reduzem o consumo de energia e controlam vazamentos, além, é claro do investimento em pessoal. “O varejista consegue retorno investindo em boas práticas”, afirmou.

Próximos passos

Durante a tarde, os participantes do Workshop (varejistas, profissionais da indústria, consultores especializados, representantes do MMA, da GIZ, do PNUD e da UNIDO) debateram o tema ainda mais profundamente durante mesas de discussão coordenadas por mediadores especializados (Thiago Pietrobon, Tomaz Cleto e Sidney Isidro).  Entre os desafios futuros foi consenso entre os participantes, além do foco em alternativas de fluidos naturais, a importância de estratégias para qualificação e, especialmente, valorização de pessoal técnico, a começar pela conscientização dos empresários do setor a respeito*.

Finalizando os debates do dia, Laura Pires, diretora de Sustentabilidade do GPA, anfitriã do evento, disse que o principal propósito do workshop foi ampliar os debates sobre as novas alternativas aos HCFCs, abordando estratégias futuras para todo o setor supermercadista, e que essa missão foi cumprida graças ao empenho de todos os participantes.

Como disse Laura:  “Hoje 30% a 40% do impacto ambiental das empresas de supermercados é devido ao sistema de refrigeração. O varejo precisa olhar para essa questão porque o desafio é enorme. A crise energética que vivemos recentemente serviu de aprendizado e mostra a importância deste tema. Precisamos, juntos, pensar em estratégias futuras”.

A iniciativa da Sustentabilidade do GPA, que organizou o workshop aberto aos varejistas, foi muito elogiada por todos os participantes. 

O evento, que ocorreu no auditório da Sede da Via Varejo, em São Caetano do Sul, contou com o apoio do Ministério do Meio Ambiente (MMA), da Cooperação Alemã para o Desenvolvimento Sustentável (GIZ), da Organizações das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO), da Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS), e também da Associação Paulista de Supermercados (APAS).

* Esses temas serão novamente debatidos, desta vez pelos empresários supermercadistas, no Workshop Sustentabilidade, da Convenção ABRAS- 50 ANOS, que acontece no próximo mês de novembro.

Por Susana Ferraz

Fonte: GIZ/Sete Estrelas Comunicação