Profissionais da refrigeração debatem maior participação feminina no setor em evento na Fiesp -SP

Qual é o contingente atual de participação feminina no setor de refrigeração e ar condicionado? Como ampliar essa participação? Quais as histórias de sucesso das mulheres no setor? Como escolas, como o Senai-SP, atuam para ampliar o contingente feminino na área? Essas e outras questões foram debatidas no evento “Agora é que são Elas:  Mulheres  no AVAC&R 2018”, realizado no dia 5 de dezembro, na Fiesp-SP, que homenageou técnicas em refrigeração com carreiras de sucesso, como Jossineide Oliveira e Silva, primeira instrutora mulher a ministrar os cursos no Brasil de “Boas Práticas em Sistemas de Ar Condicionado do Tipo Janela e Mini-Split” e de “Boas Práticas em Sistemas de Refrigeração Comercial”. Esses cursos fazem parte das ações para o setor de Serviços do Programa Brasileiro de Eliminação dos HCFCs (PBH).

Além de Jossineide, foram homenageadas, no evento, mulheres de destaque no setor RAC, como a técnica em refrigeração com longa carreira na área, Carmosinda Santos (Equinix), a coordenadora pedagógica do Senai-SP, Simone Bálsamo (Senai-SP), a empresária Graciele Davince (Eletrofrigor), entre 30 mulheres homenageadas e aplaudidas por um auditório lotado com cerca de 300 pessoas.

A técnica Carmosinda Santos, que se apresentou como “Filha do Senai”, foi uma das primeiras palestrantes do evento, fez um discurso emocionado, falando da sua vida simples, das suas conquistas como técnica mulher, das dificuldades do trabalho diário: “Vocês não sabem o tamanho da importância do apoio de todos no setor, homens e mulheres, ao nosso trabalho no dia a dia. Estou falando como mulher, como técnica que coloca um condensador nas costas, que quebra uma parede, que fica o dia todo exposta ao sol para fazer uma manutenção. Muitas vezes nós não damos o devido valor ao ambiente climatizado que nós estamos e nem imaginamos o que acontece nos bastidores, ou seja, a dificuldade que os técnicos passam para oferecer o conforto do ar condicionado.”

Carmosinda exalta ainda a importância de valorizar o trabalho de todos os técnicos: “O propósito desse evento é não só exaltar a presença das mulheres na refrigeração. Mas também os nossos amigos, os nossos colegas (homens). Porque se hoje eu sou técnica em refrigeração atuando em equipamentos de grande porte, com Chillers (atuo no maior datacenter do mundo, na Equinix) é graças a esses colegas e amigos que me ensinaram, me auxiliaram, me deram a mão… Portanto, aproveito esse evento para pedir que os técnicos em refrigeração, homens e mulheres, bons profissionais, sejam mais valorizados”.

Também do Senai-SP, a coordenadora pedagógica da Escola Oscar Rodrigues Alves, Simone Balsamo, química, pedagoga e mestranda em Educação, falou sobre a escola, seus alunos e a participação feminina desde a década de 50, com técnicas tecelãs, até hoje, com técnicas em refrigeração se formando a cada ano. “Para falar da mulher no setor, eu busquei alguns dados da Revista do Frio que destaco, pois não há pesquisa no Brasil sobre a diversidade de mão de obra na área (refrigeração e climatização). Nos Estados Unidos, as mulheres no setor respondem por apenas 2% da mão de obra na área de refrigeração e climatização e também respondem por apenas 29% dos cargos de presidência na área”, afirmou, mostrando como ainda é pequena a participação de mulheres no setor de refrigeração no mundo. “Mas os gráficos mostram que, mesmo assim, sendo poucas, a participação das mulheres nos EUA está crescendo. Acho que essa é a tendência aqui no Brasil também. Nós do Senai-SP incentivamos e valorizamos a participação das mulheres em nossos cursos. Desde 1993 até agora tivemos 77 alunas formadas apenas no curso técnico em refrigeração. Em média, de cada turma com 36 alunos, uma é mulher. É muito pouco ainda, mas é uma participação crescente e elas põem a mão na massa (Simone mostrou várias fotos de alunas e professoras atuando). Nossa escola tem alunas, mas é preciso divulgar mais essa participação da mulher nessa área, mostrando que os cursos de técnicos em refrigeração e climatização são também para mulheres!”.

Menos preconceito, mais harmonia

Patrícia Corrêa Balan Abdalla, engenheira mecânica, gerente de Desenvolvimento da Rede de Concessionários da América Latina na Thermo King – empresa do Grupo Ingersoll Rand® Company, foi outra representante do universo feminino do setor de refrigeração a falar, como disse, não apenas sobre mulheres. “Não estamos aqui para falar sobre homens e mulheres. Estamos aqui para falar sobre nós”, evidenciando que é preciso uma mudança cultural, de homens e mulheres, para diminuir a visão preconceituosa e estereotipada de ambos. Ela revelou que sofreu muito bullying (violência psicológica) na carreira (engenharia) e que também tinha preconceito contra a participação das mulheres. Ela, por exemplo, resistiu inicialmente a participar de um programa para lideranças femininas no grupo em que atua. Depois, percebeu seu preconceito e a importância desse trabalho para ampliar o número de líderes mulheres. “Eu estava enganada. Foi um divisor de águas na minha vida, porque, ao ingressar em um programa para lideranças femininas, eu tive a oportunidade de escutar outras mulheres e perceber que essa questão da resiliência da autoconfiança, que eu achava que tinha, não é o que passa na maioria das mulheres. Eu percebi que, mesmo sendo mulher, eu era machista, pois procurava agir e me incorporar ao ambiente masculino em que atuava. Muitos colegas diziam: ‘Você é muito legal, você pensa e fala igual homem´. Foi um processo de transformação. Aprendi muito”, afirma Patrícia.

A gerente da Thermo King fala sobre os caminhos para ampliar a diversidade de gênero no setor de refrigeração. “Hoje quando a gente fala da qualificação profissional e do mercado de trabalho, independentemente de serem mulheres ou homens, todos precisam se qualificar, principalmente com as mudanças da Indústria 4.0 que estão aí. Mas, quando a gente fala em setores técnicos como o de refrigeração, o número de mulheres participando ainda é muito baixo. Então, o que a gente percebe é uma mensagem muito positiva: existem oportunidades para as mulheres nesse setor. Contudo, o desafio é criar um ambiente de inclusão para que as mulheres se sintam encorajadas a entrar nesse setor e avançar”, afirma. Para Patrícia, é preciso coragem, porque o processo é longo e envolve tentativas e erros. Mas vale a pena começar a trabalhar em um ambiente nas empresas que amplie o respeito pelas diferenças. “Vamos respeitar as diferenças. Somos diferentes sim (nós mulheres) e vamos praticar a gentileza para poder conquistar nosso espaço, privilegiando características femininas tão bonitas, como ser gentil.”

Para ampliar a participação das mulheres no setor de refrigeração, Patrícia sugere ampliar a reflexão sobre a participação da mulher no setor, combatendo os ‘clubes do bolinha’, o bullying, deixando as mulheres falar e se manifestar, ampliando sua confiança e, portanto, incentivando sua participação. “Nós precisamos olhar para nossas empresas, para esse mercado, para fazer com que essas mulheres possam trabalhar, executar suas funções, com liberdade de serem quem são e encontrarem um ambiente propício”, afirmou.

Homens e mulheres juntos no setor

“É significativo o crescimento da participação das mulheres nessa indústria. Vemos cada vez mais engenheiras, arquitetas, professoras, líderes empresariais e vendedoras atuando na área. É fantástico ver as mulheres rompendo estereótipos e mudando paradigmas, num mercado em que a mão de obra masculina ainda reina soberana”, afirmou o jornalista Paulo Fernando Costa, repórter da Revista do Frio, que mediou o primeiro debate da noite. Outro mediador dos debates, o diretor da Camfil na América Latina, Paul Clevelan, também falou da importância do incentivo à participação feminina no setor: “O nosso espírito aqui é de contribuir, de trabalhar, para que consigamos, em algum momento, essa igualdade entre homens e mulheres no setor. Uma luta que já se estabelece há algum tempo e que surge pela composição cultural e aspectos socioeconômicos do nosso país, no qual percebemos mudanças e, hoje, está em vias de se conseguir essa igualdade no mercado de trabalho, nas oportunidades e na questão de rendimentos.”

O evento, promovido pelo Sindratar-SP – Sindicato da Indústria de Refrigeração, Aquecimento e Tratamento de Ar no Estado de São Paulo, e pela ASHRAE Brasil Chapter – sociedade norte americana voltada ao setor, foi realizado em auditório no prédio da Fiesp, em São Paulo (SP). Durante a abertura, o presidente do Sindratar-SP, Carlos Eduardo Trombini, agradeceu a participação de todos, especialmente das mulheres, e elogiou a maciça participação das mesmas nos eventos, já adiantando a possibilidade de outras edições. O mesmo propósito foi defendido pelo presidente da ASHRAE Brasil, co-promotora do evento, Bruno Martinez, que destacou a participação de mais mulheres na entidade.

O evento contou também com a presença de várias autoridades, como a Secretária de Políticas Públicas para Mulheres, do Governo Federal, Naura Requia Schneider. Na oportunidade a secretária destacou a importância de o Governo Federal se aproximar das questões que envolvem o universo da refrigeração, uma vez que cabe à Secretaria criar políticas públicas que permitam às mulheres exercerem sua cidadania dentro da sociedade brasileira. No evento, o presidente do Fenemi, Marco Aurélio Candia Braga, deu uma grande notícia para setor: a decisão do CONFEA de instituir o Dia Internacional das Mulheres na Engenharia.

Veja mais a respeito do evento “Agora é que são elas” em: https://www.sindratarsp.com.br/single-post/2018/12/07/Agora-%C3%A9-que-S%C3%A3o-Elas-discute-futuro-da-presen%C3%A7a-feminina-no-AVACR e http://revistadofrio.com.br/2018/12/ashrae-brasil-e-sindratar-sp-homenageiam-mary-