Cerca de 120 especialistas e técnicos em refrigeração e ar condicionado se reuniram na quinta-feira, 14, para debater alternativas econômica e ambientalmente viáveis para o setor focando no tema: Fluidos Refrigerantes: Situação Atual e Tendências, durante o XV Congresso Brasileiro de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação, Aquecimento e Tratamento do Ar (Conbrava), em São Paulo (SP), realizado pela Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento (Abrava).
O evento propôs discussões para aprimoramento tecnológico e desenvolvimento profissional, alinhando-se com os objetivos do Protocolo de Montreal, que estimula o debate sobre novas tecnologias calcadas em substâncias não danosas para o meio ambiente.
Dentre as principais substâncias utilizadas como fluido refrigerante está o HCFC-22, um gás danoso para a camada de ozônio e controlado pelo Protocolo de Montreal. “Atualmente, o setor de serviços de refrigeração e ar condicionado consome, pelo menos, 900 toneladas ao mês de fluido refrigerante HCFC-22”, explicou o vice-presidente de meio ambiente da Abrava, Paulo Neulaender.
De acordo com as metas do Programa Brasileiro de Eliminação dos HCFCs (PBH), o Brasil deve eliminar 39,3% do consumo de HCFCs até 2020 e 51,6% até 2021. Nesse contexto, haverá um corte na importação de HCFC-22 em 27,5% em 2021, segundo estratégia da Etapa 2 do PBH.
“O Brasil está preparado na parte industrial do setor para novas tecnologias, mas ainda precisa aprimorar o treinamento de serviços, dos mecânicos que cuidam dos equipamentos que já estão instalados”, complementou Neulaender.
A Coordenadora Geral de Proteção da Camada de Ozônio do Ministério do Meio Ambiente, Magna Luduvice, explicou que o PBH foi desenvolvido pensando tanto no setor de refrigeração quanto no de espumas de poliuretano. “O setor de refrigeração foi contemplado na Etapa 2 do PBH, de forma a dar tempo para que o setor realize a substituição pensando no meio ambiente e também na viabilidade econômica em realizar essa conversão”, concluiu a coordenadora do MMA.
O co-coordenador do Comitê de Opções Técnicas em Refrigeração e Ar Condicionado – RTOC do Protocolo de Montreal, Roberto Peixoto, apontou algumas alternativas que já são utilizadas pelo setor, mesmo que de forma transitória. Mas alertou que a preocupação na escolha do fluido deve ser redobrada, porque deve focar em opções com baixo potencial de destruição do ozônio e de aquecimento global. Peixoto destacou que é importante para o setor também analisar os custos, disponibilidade comercial, segurança e todas as questões operacionais para maior viabilidade dos sistemas.
A emenda de Kigali e os HFCs
Um dos gases utilizados como alternativa de fluido refrigerante para o setor de refrigeração são os HFCs. Apesar de não causarem dano para a camada de ozônio, os HFCs possuem alto potencial de aquecimento global, contribuindo para o efeito estufa.
Em 2016, o Protocolo de Montreal aprovou a Emenda de Kigali, que inclui os HFCs como substâncias controladas pelo tratado internacional. Durante o debate, Magna Luduvice ressaltou que é importante que o setor de refrigeração busque outras alternativas, com substâncias que não sejam nem danosas para a camada de ozônio nem para o clima.
O Protocolo de Montreal tem contribuído para esses dois fatores. Peixoto apontou que o Protocolo de Montreal, cujo principal objetivo era a proteção da Camada de Ozônio, tem agora uma vertente definida pela proteção do clima. “Com essa emenda, existe um incentivo muito grande para o uso de fluidos refrigerantes de baixo potencial de aquecimento global e o desenvolvimento de uma tecnologia sustentável para os aparelhos de refrigeração, ar condicionado e bombas de calor.”
Até o momento, seis países já ratificaram a emenda de Kigali. A expectativa é que 20 países a ratifiquem até 2019 para que ela entre em vigor. No Brasil, o Ministério das Relações Exteriores e o Ministério do Meio Ambiente estão trabalhando em conjunto para enviar a emenda para a avaliação da presidência da república e posterior encaminhamento para aprovação do Congresso Nacional.
FEBRAVA
Em sua 20ª edição, a Feira Internacional de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação, Aquecimento e Tratamento do Ar (Febrava) contou com mais de 300 empresas expositoras e recebeu cerca de 30 mil visitantes em seus 4 dias de duração. A Febrava ocorreu concomitantemente ao Conbrava entre 12 e 15 de setembro, em São Paulo.
Durante o evento, vários membros da equipe de implementação do Protocolo de Montreal no Brasil estiveram presentes, participando da feira e do congresso. Os projetos das áreas de serviço e manufatura de refrigeração e ar condicionado, que contam com o apoio da Abrava são coordenados pelo Ministério do Meio Ambiente e implementados pela Cooperação Alemã para o Desenvolvimento Sustentável por meio da Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH e pela Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO), respectivamente.
Para a gerente de projetos das ações no setor de serviços pela GIZ, Stefanie von Heinemann, “é muito importante a realização de eventos como a Febrava e o Conbrava para que o setor de refrigeração mantenha o ritmo das atualizações tecnológicas, especialmente focadas em baixo potencial de destruição do ozônio e de aquecimento global. Para nós também é muito bom participar, porque também precisamos estar atentos às novidades do setor, que é um grande parceiro”.
Já para a gerente dos projetos de conversão do setor de manufatura de equipamentos de refrigeração e ar condicionado pela UNIDO, Sérgia Oliveira, “a Febrava é o ambiente onde temos a oportunidade de encontrar parceiros que estão com o espírito de inovação, de aprender assistindo às palestras e identificar novas oportunidades de atuação, com a tecnologia de ponta apresentada pelo setor”.