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COOL TALKS PBH: “17 ANOS NA CONSTRUÇÃO DE RELAÇÕES DE CONFIANÇA, COM SATISFAÇÃO E VONTADE DE FAZER A DIFERENÇA!”

Entrevista

Magna Luduvice, Analista Ambiental, com 17 anos de atuação à frente da Unidade Nacional de Ozônio (NOU, sigla em inglês), no Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA). Nesta entrevista, ela fala sobre sua carreira, em especial, sobre as ações no âmbito do PROGRAMA BRASILEIRO DE ELIMINAÇÃO DOS HCFCs (PBH).

POR FAVOR, FALE SOBRE SUA CARREIRA DESDE O INÍCIO ATÉ SUA CHEGADA AO MMA? 

Em dezembro de 1982, concluí a graduação em engenharia florestal pela Universidade de Brasília – UnB e, em março de 1983, iniciei a minha vida profissional na antiga Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA), sob a liderança do Dr. Paulo Nogueira Neto. Nesta época trabalhava com a agenda verde, mais especificamente com a criação e instalação de Unidades de Conservação. 

Depois, fui para o setor privado, de 1986 a 1990 — quando houve aquele boom das empresas de engenharia no País —, como chefe da seção de vegetação do Departamento de Meio Ambiente da empresa de engenharia ENGEVIX S.A., sendo responsável pela identificação e manutenção da vegetação no entorno da Usina Hidrelétrica de Tucuruí, no Pará, prestando serviço para a Eletronorte.  

Posteriormente, a SEMA, o IBDF (Madeira), a SUDHEVEA (Borracha) e a SUDEPE (Pesca) foram fundidos e viraram o IBAMA. Em 1990 fui para o IBAMA trabalhar com o tema de incêndios florestais no PREVFOGO, onde trabalhei até 1994, quando fui para o Ministério do Meio Ambiente. Até aqui eu atuava completamente na área florestal e na agenda verde.

De 1994 a 2005, trabalhei como consultora especialista, lotada no Programa Nacional de Meio Ambiente – PNMA, apoiando os estados nas questões relacionadas à qualidade da água dos rios. 

Em 2005, percebendo que já estava na hora de ter mais segurança profissional, eu fiz o primeiro concurso público para o cargo de analista ambiental do Ministério do Meio Ambiente. Como já trabalhava há muitos anos no MMA, sendo efetivada, fui convidada a assumir as questões relacionadas à proteção da Camada de Ozônio, como coordenadora. 

Foi uma surpresa enorme… Aceitei o convite, porque gostava muito da área internacional e de gerenciamento de projetos. Era uma grande oportunidade e estava ciente dos imensos desafios que enfrentaria, pois, nesta época, conhecia o tema, ainda superficialmente, por meio de colegas que atuavam na área. Foi bem difícil no início, mas muito gratificante pelos aprendizados (as questões das metas do Protocolo de Montreal, o setor de Refrigeração no Brasil, etc.).

Apaixonei-me pelo tema e não quis mais sair. Coordenei as ações brasileiras de proteção da Camada de Ozônio de 2005 a 2018. Fui me aprimorando e estudando sempre. De 2019 até 2022, fiz parte da equipe técnica. Neste início de 2023, parti para a aposentadoria, pois considerei que já era hora de seguir outros rumos na vida.       

 

VOCÊ TEVE UM PAPEL FUNDAMENTAL, DE LIDERANÇA, EM TODAS AS AÇÕES NO ÂMBITO DO PROTOCOLO DE MONTREAL NO BRASIL, INCLUINDO O PBH, QUE ESTÁ EM FASE DE IMPLEMENTAÇÃO ATUALMENTE. POR FAVOR, FALE SOBRE ESSE PROGRAMA E SOBRE AS PRINCIPAIS INICIATIVAS QUE COMANDOU DURANTE 13 ANOS À FRENTE DA UNIDADE NACIONAL DE OZÔNIO (NOU), NO MMA?

Ao se aproximar a conclusão das metas de eliminação dos CFCs pelos países em desenvolvimento (prevista para 2010), as Partes do Protocolo de Montreal consideraram oportuno antecipar o cronograma de eliminação dos HCFCs, que surgiram como substâncias alternativas aos CFCs, tendo em vista também o efeito prejudicial à Camada de Ozônio e ao clima. 

Em 2007, ao comemorar os vinte anos do Protocolo, foi aprovado o Ajuste ao Protocolo que estabeleceu um novo cronograma de eliminação dos HCFCs para os países em desenvolvimento. A delegação brasileira participou ativamente das discussões relativas ao ajuste, inclusive apresentando, juntamente com a Argentina, uma das seis propostas de cronograma para o Ajuste, que deram origem ao resultado final. 

Eu, na época, compunha a delegação brasileira, na equipe do MMA, sendo responsável pelos subsídios técnicos ao Ministério das Relações Exteriores, que chefiava a delegação. A ministra do Meio Ambiente naquele ano era, inclusive, a atual ministra, Marina Silva. 

O  Protocolo de Montreal tem suas ações apoiadas pelo Fundo Multilateral para a Implementação do Protocolo de Montreal (FML), ao qual os países desenvolvidos colocam recursos para apoiar os países em desenvolvimento a cumprir suas metas. À época, foram disponibilizados os recursos e cada país tinha de elaborar seu programa para cumprir suas metas. 

Assim foi estabelecido o Programa Brasileiro de Eliminação dos HCFCs (PBH), com o apoio do setor privado. A partir de então, o MMA passou a coordenar a implementação do programa, que está sendo realizado em etapas. A primeira etapa visava o cumprimento do congelamento e da primeira meta de redução do consumo até o ano de 2015 (16,6%); e a segunda etapa para o alcance das metas até 2021 (51,6%). 

Atualmente, está em elaboração a terceira etapa que será implementada até 2030, com o compromisso de reduzir 97,5% do consumo de HCFCs em relação à linha de base (média do consumo dos anos 2009-2010). Cada etapa foi negociada pelo Brasil com o Comitê Executivo do Fundo Multilateral e com isso obtivemos o apoio financeiro para cumprimentos das metas. 

 

AS AÇÕES DO PBH SOMAM ESFORÇOS NACIONAIS E INTERNACIONAIS. POR FAVOR, FALE UM POUCO SOBRE A PARCERIA DO MMA COM A GIZ E AS OUTRAS AGÊNCIAS QUE APOIAM A IMPLEMENTAÇÃO DO PROGRAMA?

Todo o trabalho de implementação do PBH conta com o apoio da GIZ, PNUD e UNIDO. A parceria construída ao longo de todos esses anos foi fundamental para o sucesso alcançado pelo Brasil no cumprimento das metas estabelecidas pelo Protocolo de Montreal. Cada agência ficou responsável pela implementação de um setor específico. A GIZ, pelo setor de serviços de refrigeração e ar condicionado; o PNUD, pelo setor de espumas de poliuretano e a UNIDO pelo setor de manufatura de equipamentos de refrigeração e ar condicionado.  

O MMA é o coordenador do programa, essas agências nos apoiam na implementação, e o IBAMA é o responsável pelo controle da importação e exportação dessas substâncias, que vão gerar o dado de consumo do País, esclarecendo que o consumo é a produção somada à importação, menos as exportações. Este cálculo é apresentado anualmente ao secretariado do Protocolo de Montreal para controle da redução do consumo, ou seja, como o país está cumprindo suas metas.

 

SOB SUA COORDENAÇÃO, ACONTECERAM VÁRIAS PARCERIAS ENTRE O MMA E O SETOR PRIVADO. FALE, POR FAVOR, SOBRE A IMPORTÂNCIA DESSAS PARCERIAS E SOBRE SUA VISÃO DOS AVANÇOS QUE OCORRERAM NA ÁREA DE REFRIGERAÇÃO E CLIMATIZAÇÃO NOS ÚLTIMOS 20 ANOS.

O setor privado é um parceiro fundamental para o sucesso do Programa.  É uma parceria contínua, que se dá por meio de suas associações e das próprias empresas que se disponibilizaram para proceder a conversão tecnológica de seus respectivos processos de produção.  

Nesses anos todos foi construída uma relação de confiança entre o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, o Ibama, as agências de implementação e o setor privado. Além de contar com o apoio de outros ministérios e órgãos de governo, nas ações desenvolvidas.

O setor privado sempre esteve muito engajado nesta parceria exitosa, pois o Brasil sempre se antecipou ao cumprimento das metas. A área de refrigeração e climatização acompanhou a preocupação da sociedade com a proteção da Camada de Ozônio e do sistema climático global, contribuindo para a sustentabilidade do planeta, substituindo os fluidos refrigerantes por outros menos prejudiciais ao meio ambiente.  

A utilização dos fluidos naturais, sempre que possível, é a alternativa mais adequada para o alcance da sustentabilidade no longo prazo. É a alternativa definitiva, enquanto outros são alternativas intermediárias com baixo potencial de aquecimento global. 

Neste contexto, a mão de obra é um fator determinante, porque teremos de ter uma mudança cultural para melhor utilização dos fluidos inflamáveis. O PBH apoia todo esse processo, incluindo a capacitação da mão de obra nas novas tecnologias. Sem mão de obra qualificada para proceder as mudanças necessárias não é possível seguir em frente.

 

DURANTE TODOS ESSES ANOS ATUANDO EM PROJETOS PARA A PROTEÇÃO DA CAMADA DE OZÔNIO E DO CLIMA, VOCÊ CERTAMENTE FOI CAPAZ DE ACUMULAR UMA ENORME RIQUEZA DE EXPERIÊNCIA. POR FAVOR, CITE UMA OU DUAS DAS EXPERIÊNCIAS MAIS GRATIFICANTES DA SUA CARREIRA?

As experiências que tive durante todos esses anos, incluindo poder representar o Brasil, como parte da delegação, em muitas reuniões no exterior, foram enriquecedoras e gratificantes. Neste trabalho, nós conhecíamos muitas pessoas e trocávamos ideias com profissionais do mundo todo, mas, em especial, com os das delegações da nossa região, a América Latina e Caribe, no qual, inclusive, criamos um grupo muito unido.

Foram realmente gratificantes os dezessete anos em que participei, juntamente com o Ministério das Relações Exteriores, de todas as discussões que resultaram nas decisões tomadas no âmbito do Protocolo de Montreal, em especial, a aprovação do Ajuste que estabeleceu o novo cronograma de eliminação dos HCFCs e dos nove anos de negociação que culminou com a aprovação do texto da Emenda de Kigali, que incluiu os HFCs como substâncias também controladas pelo Protocolo. A Emenda foi aprovada em 2016 e, somente em 2022, conseguimos, finalmente, a ratificação do Brasil. Ainda é necessário a promulgação pelo Presidente da República.

Também, gratificante observar a cada ano, que todo o esforço de implementação do PBH, empreendido pelas equipes do MMA, Ibama, agências implementadoras (GIZ, PNUD e UNIDO) e o setor privado, resulta na diminuição do consumo dos HCFCs e o Brasil vem cumprindo com louvor as metas estabelecidas pelo Protocolo de Montreal.  

 

VOCÊ PODERIA FALAR UM POUCO SOBRE SUA VISÃO DO FUTURO DO PBH, SOB NOVAS LIDERANÇAS, EM ESPECIAL SOBRE AÇÕES PARA ATENDER À EMENDA DE KIGALI, QUE JÁ MENCIONOU?

As equipes que foram formadas ao longo desses anos no MMA, Ibama, GIZ, PNUD e UNIDO têm toda a condição de seguir em frente e manter o Brasil em cumprimento com as metas estabelecidas pelo Protocolo de Montreal. Todo o sucesso desse Programa deve-se ao trabalho em equipe e de muita parceria em prol de um objetivo comum. 

A Emenda de Kigali é a menina dos olhos. Foi todo um trabalho muito gratificante para construí-la e aprová-la, em especial, por toda essa preocupação com o clima, na qual o Protocolo de Montreal poderia ter uma participação muito efetiva.  Foi uma construção que levou nove anos, onde os países (198 Partes) foram evoluindo de posicionamento. Com essa Emenda, o Protocolo de Montreal continua seu trabalho de tratar do consumo em níveis sustentáveis. 

Em um futuro próximo, para atender a Emenda de Kigali e reduzir o consumo dos HFCs, o Brasil irá construir um Programa, assim como foi realizado para os CFCs e HCFCs, incluindo o estabelecimento da linha de base. O MMA coordenará a elaboração e a implementação contando com os parceiros de sempre.

 

POR QUE VOCÊ SE PREOCUPA PESSOALMENTE COM OS TEMAS AMBIENTAIS E QUAL O IMPACTO DO SEU TRABALHO NA SUA VIDA PESSOAL? 

Desde jovem me identificava com as questões ligadas ao meio ambiente que culminou com a escolha do meu curso de graduação na universidade. Esse interesse só aumentou com o tempo e o conhecimento mais aprofundado das questões ambientais. Eu acho que eu passei esse amor pelo trabalho, esse engajamento, e essa preocupação ambiental e social para as minhas duas filhas, que são ótimas profissionais… E, também, para as pessoas das equipes com as quais trabalhei. Eu tenho a sensação de que consegui passar… que eu pude contribuir e ensinar… que deixei um legado… e isso me dá uma sensação de missão cumprida! 

O meu lado profissional sempre representou muito para mim. Sempre o desempenhei com dedicação e prazer em obter os melhores resultados possíveis. Realizar o meu trabalho com dedicação e comprometimento sempre me trouxe satisfação e vontade de fazer a diferença por onde passasse. Quando nos dedicamos e gostamos do que fazemos todo o nosso universo pessoal flui e fica mais equilibrado.

POR FAVOR COMPLEMENTE AS FRASES:

 

O Programa Brasileiro de Eliminação dos HCFCs – PBH é… uma das contribuições do Brasil ao esforço de manutenção da temperatura global em níveis sustentáveis para a atual e as futuras gerações.



A Proteção da Camada de Ozônio e do Clima tem como desafio nos próximos anos… manter os padrões de consumo da sociedade em níveis sustentáveis para o planeta em que vivemos. Ou seja, não estamos dizendo para não ter geladeiras, não ter aparelhos de ar condicionado, estamos dizendo que o nosso conforto pode ocorrer de uma forma mais sustentável.


Eu amo meu trabalho e estou muito feliz por tudo o que realizei porque… tenho certeza de que dei o melhor de mim e contribuí para a obtenção dos resultados alcançados pelo Brasil em prol da proteção da Camada de Ozônio e do sistema climático global.

MAGNA LUDUVICE e seu trabalho em prol do PBH:

“O ESFORÇO DE IMPLEMENTAÇÃO DO PBH PELO MMA, O IBAMA, AS AGÊNCIAS DE IMPLEMENTAÇÃO E O SETOR PRIVADO RESULTOU NA DIMINUIÇÃO DO CONSUMO DOS HCFCs E O BRASIL VEM CUMPRINDO COM LOUVOR AS METAS ESTABELECIDAS PELO PROTOCOLO DE MONTREAL!”

COOL TALKS PBH: “PESQUISA É EXTREMAMENTE MOTIVADORA E DESAFIADORA, PORQUE NÓS TRABALHAMOS COM AS INOVAÇÕES QUE VÃO ACONTECER NA INDÚSTRIA!”

Dr. Enio Pedone Bandarra Filho, 53 anos, é um dos mais renomados cientistas brasileiros da área de Refrigeração. É professor titular da UFU e bolsista Produtividade em Pesquisa do CNPq, nível 1B. Nesta entrevista, ele fala sobre sua carreira e, em especial, sobre pesquisas nas áreas de novos fluidos refrigerantes e naturais.

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