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COOL TALKS PBH: “FLUIDOS INFLAMÁVEIS: OS DESAFIOS E OPORTUNIDADES DA REFRIGERAÇÃO NO BRASIL, NA ALEMANHA E NO MUNDO”

Entrevista

Dennis Frieske, engenheiro alemão, é consultor internacional da área de refrigeração. Nesta entrevista ele fala sobre sua experiência na Alemanha e no mundo e, em especial, do trabalho recente no Brasil, pelo PBH, abordando especialmente a questão dos fluidos inflamáveis.

POR FAVOR, FALE UM POUCO DA SUA CARREIRA NA ÁREA DE REFRIGERAÇÃO E CLIMATIZAÇÃO NA ALEMANHA?

Estou atuando há 20 anos na área de refrigeração. Comecei a trabalhar em 2003, assim que eu terminei o curso técnico na Alemanha, em uma empresa de médio porte da área de refrigeração comercial, com cerca de 300 funcionários. Nesta empresa, nós percebemos que os refrigerantes inflamáveis eram o futuro da refrigeração e optamos por essa tecnologia. Eles representavam ao mesmo tempo uma oportunidade e um desafio, pois era uma novidade, e muitos funcionários não sabiam como operar de forma segura. Foi quando criamos programas de treinamento e eu comecei a ensinar. A partir daí, outras empresas ficaram sabendo desses treinamentos e eu fui chamado para ministrá-los. Foi assim que comecei a atuar, especialmente a partir de 2015, como consultor internacional das áreas de refrigeração e climatização, treinando equipes em diferentes companhias da Alemanha e do exterior. Em 2019 fui contatado pela empresa alemã, HEAT Internacional, para atuar em projetos da GIZ.

 

VOCÊ PODE CONTAR UM POUCO MAIS SOBRE SUA CARREIRA, ESPECIALMENTE FALANDO COMO É O SETOR DE REFRIGERAÇÃO, DE FORMA GERAL, NA ALEMANHA, EM COMPARAÇÃO COM O QUE CONHECEU NO BRASIL?

Um tempo depois, eu atuei em uma outra empresa, que trabalhava com comércio de fluidos refrigerantes. Nela, eu pude conhecer um panorama geral de como funcionava o setor na Alemanha; lá nós seguimos normas específicas da União Europeia, que têm como objetivo eliminar todos os fluidos refrigerantes com alto GWP. Na Alemanha sempre estivemos bem adiantados, em relação aos objetivos sustentáveis. Em quase todas as aplicações menores, já utilizamos hidrocarbonetos e em quase todo os supermercados (pequeno e médio porte) utilizamos propano e butano, e CO2, em grandes aplicações

Na Alemanha, nos próximos anos, o desafio será para as aplicações de tamanho médio, porque não se pode usar propano em tudo e esses negócios são muito pequenos para usar CO2. O desafio que teremos será conseguir um fluido refrigerante que seja aplicável em empreendimentos médios e, ao mesmo tempo, ambientalmente mais amigável. E, agora, com a guerra, existe falta do suprimento de gás, o que agrava a situação. Portanto, hoje o nosso desafio é adotar fluidos refrigerantes também para aquecer as residências. 

 

COMO É A FORMAÇÃO PROFISSIONAL DOS TÉCNICOS DE REFRIGERAÇÃO NA ALEMANHA (CURSOS OBRIGATÓRIOS, CERTIFICAÇÃO, ASSOCIAÇÃO)?

Na Alemanha temos um curso, parecido com o curso técnico daqui do Brasil, com duração de três anos e meio. Além dele, para atuar no setor é preciso um certificado emitido pela Associação de Químicos para o Clima. Este certificado é exigido de todos que utilizam fluidos refrigerantes sintéticos, ou seja, que não são naturais. Nós temos também uma associação, às quais as empresas que atuam na área precisam estar associadas. Não é fácil iniciar uma empresa de refrigeração na Alemanha, porque temos de lidar com muita burocracia. 

Para atuar com os fluidos naturais não é exigida a mesma certificação ainda, mas na Alemanha qualquer pessoa que quiser atuar com trabalhos manuais com segurança precisa ter uma aprovação das habilidades para este trabalho (treinamentos específicos). Este ainda é um tópico crítico e de muita discussão na Alemanha.

Dennis Frieske, ao lado do professor Gutenberg Pereira, com a turma de instrutores que participaram do Treinamento dos Treinadores, realizado no final de 2022 em Natal-RN.

COM TODA ESSA EXPERIÊNCIA, COMO FOI TRABALHAR COMO CONSULTOR INTERNACIONAL NO TREINAMENTO DOS TREINADORES DOS CURSOS DE BOAS PRÁTICAS EM NATAL (RN)? 

Foi incrível! O Brasil é um país lindo, com um povo bom, inteligente e amigável. Eu realmente gostei muito! 

Durante os treinamentos gostei muito de trabalhar com toda a equipe da GIZ, especialmente com o consultor brasileiro, o Gutenberg. Foi muito bom. Ele é uma pessoa muito amável e também deu para perceber que ele tem muita experiência e segurança em orientar todo o curso. Os instrutores percebem muito bem isso e o respeitam. Ele apresentou tudo muito bem. Ele foi um dos melhores treinadores locais com quem eu já trabalhei! 

Também achei todos os instrutores (que participaram do Treinamento) muito abertos a aprender, além de gentis e inteligentes. Notei que eles estavam o tempo todo atentos, fazendo perguntas e participando da aula. Percebi também que eles estavam bem-preparados, porque faziam as perguntas certas durante as aulas, o que demonstrava o objetivo deles de levar ainda mais conhecimentos para os seus alunos, no futuro. 

 

POR FAVOR, FALE UM POUCO SOBRE OS OUTROS PAÍSES DO MUNDO NOS QUAIS JÁ TRABALHOU E SE ENCONTROU DIFERENTES REALIDADES NA ÁREA? 

Eu trabalhei com treinamentos técnicos em refrigeração em países como Tailândia, Áustria, Escócia, Países Baixos e França. As experiências são muito similares a que eu tive aqui no Brasil, pois os trabalhos dos técnicos em refrigeração são muito parecidos. Mas, o que mais difere nesses países, em relação ao Brasil, são os sistemas criados para recolhimento e regeneração dos fluidos refrigerantes. 

Este é um tema que terá ainda mais importância nos próximos anos. Especialmente na Alemanha, nós começamos a fazer a retirada do mercado de alguns fluidos refrigerantes e não há fluidos refrigerantes suficientes para atender toda a demanda. E aí quando os outros países começarem a eliminar do mercado esses fluidos, eles também terão de achar novos fluidos ou obter por fluidos reciclados e regenerados para substitui-los. 

Eu fiquei feliz de ver que no Treinamento dos Treinadores do curso de Boas Práticas para Melhor Contenção do HCFC-22 em Sistemas de Ar Condicionado do tipo Janela e Mini-Split, implementado pela GIZ no âmbito do PBH, o tema de recolhimento e reciclagem toma boa parte do curso e foi muito bem abordado. É um bom começo para o Brasil, que vai estar mais bem preparado para os desafios nos próximos anos, quando eliminar os HCFCs (especialmente, o R-22) totalmente. 

 

ENTÃO, O RECOLHIMENTO E RECICLAGEM DE FLUIDOS REFRIGERANTES, NA SUA VISÃO, É O GRANDE DESAFIO MUNDIAL NO MOMENTO?

Sim, é um problema de todos os países. Quando fazemos essa substituição gradual, temos sistemas que ainda estão rodando com o sistema antigo (com o R-22, por exemplo) e, ao mesmo tempo, a implementação dos novos sistemas de refrigeração (com fluidos naturais). Mas ambos os sistemas têm de continuar operando. Nós devemos achar soluções para manter os sistemas antigos funcionando, com o aumento da reciclagem e regeneração dos fluidos refrigerantes.

Durante o Treinamento dos Treinadores, em Natal, os instrutores fizeram diversas perguntas a respeito do recolhimento e reciclagem de fluidos refrigerantes, o que demonstrou que as realidades do Brasil e da Alemanha são, em certa medida, parecidas, porque as dúvidas de lá são praticamente as mesmas. Então, as soluções que teremos de trazer para esses instrutores no Brasil, também serão parecidas com as que teremos de achar na Alemanha nos próximos anos. 

 

NESTE ANO, NA ETAPA 2 DO PBH, A GIZ IRÁ COMEÇAR A IMPLEMENTAR NOVOS TREINAMENTOS PARA USO SEGURO DE FLUIDOS INFLAMÁVEIS EM SISTEMAS DE AR CONDICIONADO DO TIPO SPLIT. NA SUA VISÃO, QUAL A IMPORTÂNCIA DESTA INICIATIVA E DE OUTRAS, COMO ESSA, VOLTADAS A MAIOR UTILIZAÇÃO DOS FLUIDOS NATURAIS NO BRASIL?

Esta iniciativa é muito importante para trazer mais segurança para os profissionais que vão trabalhar com fluidos inflamáveis, como os hidrocarbonetos. Os hidrocarbonetos e outros fluidos refrigerantes inflamáveis são o futuro da refrigeração. Eles são parte importante da solução da cadeia do frio. 

Quando as pessoas não sabem a respeito desses fluidos, tendem a não tomar todos os cuidados e podem causar acidentes. É preciso conscientizar a todos da importância da segurança no trabalho e no ambiente, seja daqueles que instalam e/ou usam esses equipamentos, para segurança de todos os envolvidos. 

Em termos de preparação das escolas para esses cursos, é importante garantir que esteja tudo seguro para a realização deles, porque devem existir sistemas de detecção de vazamentos, etc., além da utilização correta dos EPIs pelos alunos a serem treinados.

 

POR FAVOR COMPLEMENTE AS FRASES:

Minha experiência no Treinamentos dos Treinadores, como consultor internacional, no Brasil foi muito boa, por que é muito importante ver como os outros países lidam com os fluidos refrigerantes e acham suas soluções.

 

A capacitação com tecnologia de fluidos naturais na minha visão é muito importante especialmente para o futuro da refrigeração!


Eu gosto do meu trabalho porque…. a refrigeração está presente em tudo na nossa vida. Ela é muito importante, mas nem todos percebem (aparelhos de ar condicionado, freezers, câmaras frias, geladeiras, etc.), não só para agora, mas também para o futuro.

REFRIGERAÇÃO, NA VISÃO DE DENNIS FRIESKE:

 

“TEM UM DITADO NA ALEMANHA QUE DIZ ‘SEM REFRIGERAÇÃO, O VENDEDOR DE SORVETES SERIA APENAS UM VENDEDOR DE FRUTAS’. É UM DITADO QUE NOS MOSTRA O QUANTO A REFRIGERAÇÃO É IMPORTANTE PARA NOSSAS VIDAS!”

COOL TALKS PBH: “PESQUISA É EXTREMAMENTE MOTIVADORA E DESAFIADORA, PORQUE NÓS TRABALHAMOS COM AS INOVAÇÕES QUE VÃO ACONTECER NA INDÚSTRIA!”

Dr. Enio Pedone Bandarra Filho, 53 anos, é um dos mais renomados cientistas brasileiros da área de Refrigeração. É professor titular da UFU e bolsista Produtividade em Pesquisa do CNPq, nível 1B. Nesta entrevista, ele fala sobre sua carreira e, em especial, sobre pesquisas nas áreas de novos fluidos refrigerantes e naturais.

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