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COOL TALKS PBH: “PESQUISA É EXTREMAMENTE MOTIVADORA E DESAFIADORA, PORQUE NÓS TRABALHAMOS COM AS INOVAÇÕES QUE VÃO ACONTECER NA INDÚSTRIA!”

Entrevista

Dr. Enio Pedone Bandarra Filho, 53 anos, é um dos mais renomados cientistas brasileiros da área de Refrigeração. É professor titular da UFU e bolsista Produtividade em Pesquisa do CNPq, nível 1B. Nesta entrevista, ele fala sobre sua carreira e, em especial, sobre pesquisas nas áreas de novos fluidos refrigerantes e naturais.

POR FAVOR, FALE UM POUCO DA SUA CARREIRA E FORMAÇÃO COMO PESQUISADOR NA ÁREA DE REFRIGERAÇÃO?

Comecei minha carreira na refrigeração cursando engenharia mecânica, na UNESP, em Bauru, e na sequência com o mestrado e douturado, na USP, em São Carlos. Meu maior incentivador à seguir a carreira academica foi meu pai, que era professor na área de veterinária. E meu maior diferencial foi ter como mestre orientador, tanto no mestrado como no doutorado, o prof. José Maria Sáiz Jabardo, um dos maiores especialistas em refrigeração e poder estudar a fundo sobre ebulição convectiva (evaporação em trocadores de calor). Em 2002 terminei o doutorado e iniciei o pós-doutorado na USP. Em 2004, prestei o concurso na Universidade Federal de Uberlância (UFU) e assumi a vaga.

 

NESSA ÉPOCA O SR. JÁ TINHA CERTEZA DE QUE A CARREIRA ACADÊMICA ERA SUA VOCAÇÃO?

Sim, especialmente no início do douturado, sob a orientação do meu “pai” científico, o prof. Jabardo. A quem dedico toda a minha carreira!

A área de pesquisa é extremamente motivadora e desafiadora. Você está sempre na vanguarda, trabalhando com as inovações que vão acontecer na indústria. A pesquisa acadêmica é muito importante porque você atrela o que a indústria está precisando aos conhecimentos teóricos, solucionando problemas e gerando inovações tecnológicas.

 

COMO FOI ESSE PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO LABORATÓRIO DE REFRIGERAÇÃO NA UFU?

Eu na época eu não conhecia a UFU, mas sabia da boa reputação que ela tinha em engenharia mecânica. O prof. responsável, Oscar Hernandez, que era chefe do Laboratório de Energia e Sistemas Térmicos, me abriu as portas e me convidou para traballharmos juntos, para avançar nessa área de refrigeração. Estava no começo de carrreira e não tínhamos verbas de pesquisa, por isso logo no começo contatei algumas indústrias e pedi doações. Uma indústria ofereceu um “Self” de ar condicionado e com ele montamos um sistema de refrigeração para testes. Assim começamos a instrumentar nosso laboratório que possibilitou a orientação de um aluno de mestrado. A partir disso fizemos vários estudos e apresentamos diversos trabalhos em congressos. Este primeiro aluno, hoje é diretor de uma universiade lá na Colômbia. É muito bom ver nossos “filhotes” (alunos) na universidade seguirem carreira de sucesso. Graças a Deus e a todo o trabalho que fazemos aqui na Universidade, todos os estudantes que passaram por aqui (mestrandos, dourorandos) foram muito bem sucedidos, na academia ou na indústria, seguindo a carreira. O que é muito satisfatório.

 

COMO FOI A EXPERIÊNCIA DE FAZER PÓS-DOUTORADO NA SUÍÇA?

Foi muito boa. Essa oportunidade de eu fazer pós-doutorado na Suíça surgiu em 2007, no Laboratório de Transferência de Calor e Massa da Ecole Polytechnique Federale de Lausanne, com um supervisor chamado John Thome, reconhecido internacionalmente. Lá eu tive a oportunidade de trabalhar com o tema de refrigeração e nanopartículas, que me abririam portas para novos estudos. Foi quando voltei para o Brasil e os órgãos de governo criaram editais voltados à nanotecnologia. Com isso consegui aprovação em verbas para projetos, que injetaram um suporte muito bom em equipamentos no nosso laboratório aqui na UFU. Isso possibilitou mais estudos práticos na refrigeração (equipamentos e fluidos) e na fundamentação da área de transferência de calor.

 

POR FAVOR, FALE DOS SEUS ESTUDOS COM FLUIDOS NATURAIS NA UNIVERSIDADE?

Todo o nosso trabalho é bastante reconhecido e com isso conseguimos boas parcerias com a indústria, que nos apoia nas pesquisas. Em relação aos fluidos naturais, tivemos, por exemplo, a oportunidade de criar uma bancada para estudar CO2, no sistema cascata, muito utilizado em supermercados, na qual testamos diversas opções de fluidos alternativos aos de elevado grau de efeito estufa.

Atualmente, estamos na fase final de construção de uma bancada para estudar o sistema transcrítico, com ejetor, também graças ao importante apoio de parceiros da indústria. Trata-se de uma tecnologia recente que está sendo aplicado no Brasil. Essa pesquisa, que estamos iniciando, será fundamental para fornecer para a indústria resultados importantes, com objetivo de direcionar as aplicações.

Também estamos com uma parceria com uma empresa de Belo Horizonte para desenvolver um sistema RAC com propano. Essa parceria Universidade-Empresa é interessante e proveitosa, porque as empresas percebem que com o investimento em pesquisa elas podem galgar avanços maiores no mercado.

 

 

 

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O prof. Enio, que participa de inúmeros congressos, recentemente organizou a 7ª Edição da Escola de Verão de Refrigeração (EVR), com o tema “inovação e sustentabilidade”.

O SR. TAMBÉM GANHOU PRÊMIO INTERNACIONAL COM ESTUDO COM PROPANO, QUE TROUXE BASTANTE VISIBILIDADE AO SEU TRABALHO, CERTO?

Esse projeto “Uso de Novos Fluidos Refrigerantes em Sistemas de Refrigeração” foi muito especial. Fomos contatados pelo pessoal da UNIDO para apoiar uma indústria de Ribeirão Preto a desenvolver uma alternativa ao HCFC-22 (R-22) em chopeiras. Nós (pesquisador e aluno) fizemos esse projeto da chopeira operando com propano, que teve grande sucesso. Com isso, conseguimos eliminar 4,5 kg de R-22 no sistema de refrigeração para menos de 150 gramas de propano (90 gramas no primeiro projeto). Tanto é que fomos laureados (eu e meu aluno David Marcucci) com o Prêmio de Inovação de Refrigeração e Ar-Condicionado para Aplicações com Fluidos de Baixo Potencial de Aquecimento Global (GWP) pela Assembleia das Nações Unidas Para o Meio Ambiente (UNEA) e da maior associação de refrigeração e ar condicionado que existe, a ASHRAE. (Veja mais no site da UFU).

O impacto desse prêmio foi muito grande, e é por isso que a parceria universidade/empresa é tão importante para a sociedade.

 

NA SUA VISÃO, QUAL O MAIOR DESAFIO AO OBJETIVO DE CONSCIENTIZAR OS TÉCNICOS DA IMPORTÂNCIA DE SE EVITAR VAZAMENTOS DE FLUIDOS REFRIGERANTES?

Este é um problema cultural do Brasil, que precisa ser mudado. Infelizmente, a nossa mão de obra na área de refrigeração é, em geral, muito desqualificada, ou seja, qualquer pessoa pode ser “instalador” de ar condicionado sem ter feito nenhum curso ou especialização para isso. As pessoas compram equipamentos de ar condicionado caríssimos e contratam um técnico sem formação para instalá-los e mantê-los.

Essa é uma “briga” que eu tenho na área. O que falta no Brasil é um programa de certificação de técnicos, o que ajudaria muito a mudar essa realidade.

Nós temos agora uma oportunidade única para isso, que é a entrada dos fluidos inflamáveis no mercado brasileiro. Porque o uso desses fluidos intimida aqueles que eu chamo brincando de “mechanicos”, ou seja, instaladores sem formação técnica. Eles temem a etiqueta de fluido inflamável, pois são aqueles que aprenderam na prática, mas não procuraram estudar e se formar como técnico e, no caso dos fluidos inflamáveis, eles sabem que correm riscos.

Esse é o ponto positivo do momento atual, pois já temos equipamentos com propano, isobunato e outros com inflamabilidade elevada circulando pelo país. Essa é a oportunidade para o Brasil iniciar um sistema de certificação, e mudar essa cultura, e tornar os nossos técnicos, profissionais certificados e habilitados nas boas práticas de refrigeração, para realizarem os serviços com eficiência e segurança (como ocorre em outros países como os EUA, por exemplo).

Eu considero que o trabalho que a GIZ vem fazendo, na implementação dos cursos do PROGRAMA BRASILEIRO DE ELIMINAÇÃO DOS HCFCs (PBH), coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), em todo o Brasil, é muito importante. Sem isso, a realidade atual seria muito pior.

 

QUAL A SUA OPINIÃO SOBRE A PERSPECTIVA DE MAIOR UTILIZAÇÃO DOS FLUIDOS REFRIGERANTES NATURAIS NO BRASIL?

Hoje já é muito claro que os fluidos naturais vieram e vão permanecer. Temos aplicabilidade para tudo no mercado, tanto para os HFOs, que são produtos químicos artificiais, quanto para os naturais.

É claro que toda utilização de fluidos refrigerantes precisa ser realizada seguindo as normas de instalação, operação e segurança, de acordo com suas caracerísticas e graus de periculosidade. Eu sempre destaco que, tanto os hidrocarbonetos, que são altamente inflamáveis, quanto os HFOs, que são levemente inflamáveis, exigem o mesmo grau de atenção e cuidado.

 

ATUALMENTE, NA ETAPA II DO PBH, SERÃO IMPLEMENTADOS NOVOS CURSOS DE CAPACITAÇÃO DE TÉCNICOS DE REFRIGERAÇÃO PARA USO SEGURO DE FLUIDOS INFLAMÁVEIS EM SISTEMAS DE AR CONDICIONADO DO TIPO SPLIT. E, TAMBÉM, CRIADOS DOIS LABORATÓRIOS (“MINI” SUPERMERCADOS) COM FLUIDOS REFRIGERANTES NATURAIS. NA SUA VISÃO, QUAL A IMPORTÂNCIA DESTAS INICIATIVAS?

Eu sou muito favorável a essas iniciativas, que visam a capacitação dos técnicos pela difusão de conhecimento por meio de atividades aplicadas nos equipamentos. Assim, os técnicos podem aprender na prática, em equipamentos reais, o que ajuda a desmistificar problemas e elucidar questões. Inclusive estou à disposição, para apoiar essas iniciativas do PBH no que for necessário. Esse programa é muito importante para o País.

POR FAVOR COMPLEMENTE AS FRASES:

 

A PESQUISA NO BRASIL SOBRE FLUIDOS REFRIGERANTES NATURAIS É IMPORTANTE… para ajudar a indústria a desenvolver equipamentos adaptados ao clima do Brasil. A pesquisa fornece números para a indústria para que ela possa adaptar seus projetos.

 

EU GOSTO DO MEU TRABALHO… porque me desafia constantemente! Sempre há novidades que me motivam a pesquisar e propor novas soluções. E quando você vê o produto final e vê o resultado positivo, não tem satisfação maior do que essa!

 

O MEU MAIOR DESAFIO COMO PESQUISADOR…  é sempre estar atualizado com as tendências mundiais e conseguir oferecer para indústria soluções inovadoras e aplicáveis.

 

ENIO BANDARRA, pesquisador na área de Refrigeração:

“Pensando no futuro, o que me motiva são os novos desafios: seja no Brasil ou no exterior; seja atuando na academia ou na indústria.”

COOL TALKS PBH: “PESQUISA É EXTREMAMENTE MOTIVADORA E DESAFIADORA, PORQUE NÓS TRABALHAMOS COM AS INOVAÇÕES QUE VÃO ACONTECER NA INDÚSTRIA!”

Dr. Enio Pedone Bandarra Filho, 53 anos, é um dos mais renomados cientistas brasileiros da área de Refrigeração. É professor titular da UFU e bolsista Produtividade em Pesquisa do CNPq, nível 1B. Nesta entrevista, ele fala sobre sua carreira e, em especial, sobre pesquisas nas áreas de novos fluidos refrigerantes e naturais.

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