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COOL TALKS PBH: “QUANTO MAIS MULHERES ATUAREM NA ÁREA DE REFRIGERAÇÃO, MAIS LUCRO AS EMPRESAS VÃO TER!”

Entrevista

A professora doutora Anna Cristina Barbosa Dias de Carvalho (FATEC) é uma das mulheres de maior destaque no setor de refrigeração no Brasil e uma grande incentivadora para que mais mulheres optem por essa área, da academia ao trabalho de campo, como técnicas, engenheiras e mestras.

POR FAVOR, FALE UM POUCO SOBRE A SUA CARREIRA.

Minha carreira começou em Fortaleza, onde nasci e me formei em Engenharia Mecânica (1989). Inicialmente, fui empresária, mas fali e descobri que precisava aprender mais. Foi obra de Deus, pois acabei prestando um concurso para professora e assim encontrei minha vocação. Amo ser professora. Fiz mestrado em Engenharia de Produção (1997) e doutorado também em Engenharia de Produção (2002), ambos pela Universidade de São Paulo, em São Carlos. Depois, retornei para Fortaleza onde iniciei a carreira como professora de engenharia. Em 2007, voltei para São Paulo, atuando na Fatec de Carapicuíba. E, na sequência, fui convidada para ser diretora da Fatec Itaquera (2013-2019), onde conheci o curso Superior em Tecnologia da Refrigeração, Ventilação e Ar Condicionado, que começava a ser implantado com apoio da ABRAVA (2014). Foi quando percebi que nós da academia não conhecíamos a área de Aquecimento, Ventilação, Ar Condicionado e Refrigeração (AVAC-R). Era um novo mundo e tínhamos muito a investigar nas empresas, indústrias, e nas escolas técnicas, como o SENAI. Foi o que eu fiz, passei a estudar profundamente a área.

 

FOI NESTA ÉPOCA QUE COMEÇOU SUA PAIXÃO PELA REFRIGERAÇÃO?

Sim, uma paixão que me motiva até hoje. A refrigeração é muito importante porque atinge muitos segmentos: alimentação, conforto térmico, industrial, hospitalar, entre outras; e influencia temas importantes como qualidade do ar e sustentabilidade, como tratamos hoje. Com muito trabalho começamos a desenvolver os cursos na área da refrigeração na FATEC e a participar do mundo da AVAC-R, especialmente por meio dos eventos e feiras de negócios, levando nossos alunos. Muitos profissionais na época pensavam que a refrigeração era só o “split” (aparelho de ar condicionado), e nem questionavam o uso de alguns fluidos e o descarte incorreto, que causam danos no meio ambiente.

 

 

Prof. Anna Cristina com colegas e alunos da FATEC em feira especializada

POR FAVOR, EXEMPLIFIQUE UM POUCO DO SEU TRABALHO NA UNIVERSIDADE COM AÇÕES EM PROL DA REFRIGERAÇÃO.

Bom, especialmente no início, tivemos muitas dificuldades, porque não tínhamos professores formados na área de refrigeração, mas sim em áreas correlatas como mecânica, química, etc. Foi quando buscamos profissionais especializados na refrigeração para dar aulas não só no curso de tecnólogo em refrigeração, mas também em outros cursos que têm interação com a área. Também colocamos requisitos nos concursos para que conseguíssemos mais professores. Ao mesmo tempo, procuramos formar nossos alunos para serem futuros professores, mas com uma visão mais ampla da área.

Uma coisa que me deixa feliz, com todo esse trabalho, é que conseguimos mostrar que a refrigeração é muito mais que o “split”. Hoje temos professores muito bons, especialistas em áreas como ar condicionado, projetos, ventilação, etc. Mas ainda temos carência de mestres na área (temos apenas um professor especialista no mestrado na USP, nas demais fica concentrado na área térmica), o que mostra que há um campo enorme a ser explorado.

A ESTRUTURA E EQUIPAMENTOS DA FATEC TAMBÉM FOI APERFEIÇOADA PARA ATENDER MELHOR A ÁREA DE REFRIGERAÇÃO?

Sim, criamos o Laboratório de Refrigeração na FATEC-ITAQUERA e, por meio de parcerias com a indústria, ele vem sendo melhorado e ampliado. Essa relação das empresas com universidade é fundamental para fortalecer a área de refrigeração.

 

QUAL A SUA OPINIÃO SOBRE A PERSPECTIVA DE MAIOR UTILIZAÇÃO NO BRASIL DOS FLUIDOS REFRIGERANTES NATURAIS NA REFRIGERAÇÃO?

Essa mudança para os fluidos refrigerantes naturais é gradativa, mas não tem como escapar. Eu acho que as universidades precisam se envolver mais nesse processo. Faltam pesquisas mais aprofundadas, não podemos considerar só os aspectos técnicos. Precisa haver um trabalho de pesquisa aprofundado envolvendo a mecânica, a refrigeração e a química aqui no Brasil, aperfeiçoando as tecnologias. Assim as empresas poderão implementar as novas tecnologias com mais segurança. É por isso que a ampliação dos cursos de mestrado na área de refrigeração é importantíssima.

 

FALE DA SUA ATUAÇÃO AO LONGO DA CARREIRA PELA IGUALDADE DE GÊNERO, EM ESPECIAL NO SETOR DE REFRIGERAÇÃO?

Este tema sempre fez parte da minha carreira. Como mulher, nordestina, engenheira, sofri vários momentos de preconceito e discriminação. O que eu vivi em 1980, quando era preterida em cargos técnicos devido ao fato de ser mulher, eu continuo vivendo hoje como professora da área. Eu tenho 34 anos de carreira, mas ainda encontro esses desafios a serem superados. Eu tenho alunas que sofrem preconceitos em suas empresas. E aconteceram casos também de assédio na FATEC na minha gestão como diretora. Na época, eu fiz um trabalho enorme com alunos e professores pelo respeito às mulheres e pelo fim da discriminação. Isso precisa acabar!

COMO COMEÇOU SEU TRABALHO NO COMITÊ DE MULHERES DA ABRAVA, DA QUAL É DIRETORA, E QUAIS OS PRINCIPAIS RESULTADOS ATÉ AGORA?

A primeira vez que o tema Mulheres na Refrigeração ganhou grande repercussão foi na FEBRAVA, no 1º Encontro Nacional de Mulheres do Setor AVAC-R, em que começaram a surgir importantes lideranças femininas na área. Nessa época, comecei a conversar com essas líderes, como, por exemplo, Juliana Reinhardt, Joana Canozzi e Priscila Baioco, presidente, vice-presidente e ex-presidente do Comitê de Mulheres da ABRAVA, e Jossineide de Oliveira e Silva, instrutora dos cursos de Boas Práticas em Refrigeração pelo PBH, entre outras. Participei desde o início da criação do Comitê, que vem fazendo um trabalho excelente, com pesquisas, reuniões e cursos.

Os homens também foram importantes neste processo, precisamos trabalhar juntos. Conversei muito sobre a necessidade de criar mais oportunidades para as mulheres na área com o presidente-executivo da ABRAVA, Arnaldo Basile, que nos apoiou desde antes da criação do Comitê. Como falei para ele, as empresas já sabem, que quanto mais mulheres forem empregadas na área, mais lucro elas vão ter. O equilíbrio de gênero é fundamental. E eu não tenho medo de dizer que tem sim preconceito na área de AVAC-R, que é comandada majoritariamente por homens, e isso precisa mudar, para que a área evolua.

 

ATUALMENTE, NA ETAPA II DO PBH, O MMA E A GIZ ATUARAM PELA IGUALDADE DE GÊNERO NA REFRIGERAÇÃO CRIANDO TURMAS DE CURSOS DE BOAS PRÁTICAS EM REFRIGERAÇÃO DO PBH EXCLUSIVAS PARA MULHERES, ALÉM DE VÍDEOS, ETC. E NA ETAPA III, QUE INICIA EM 2025, MAIS AÇÕES ESTÃO PREVISTAS. QUAL A SUA OPINIÃO SOBRE ESSAS AÇÕES?

Este trabalho do Ministério do Meio Ambiente/GIZ é fundamental. Precisamos treinar, capacitar e motivar as mulheres, para termos mais mulheres técnicas, engenheiras, professoras.

Graças a esse trabalho (do Comitê de Mulheres da ABRAVA e parceiros, como o PBH), vem crescendo o número de mulheres que atuam na área. Na FATEC, por exemplo, as alunas já são 10% das turmas na área de refrigeração. Percebemos que esse movimento também começa a acontecer nas empresas. Estamos motivando mais mulheres a evoluírem em suas carreias, ocupando cargos de lideranças. Isto já acontece, por exemplo, com mulheres atuando nos departamentos da ABRAVA, o que antes não existia. É um começo, temos muito a fazer.

 

 

POR FAVOR COMPLEMENTE AS FRASES:

 

A ATUAÇÃO DE MAIS MULHERES NA ENGENHARIA/REFRIGERAÇÃO É IMPORTANTE… porque vai trazer mais dinheiro para a indústria. Isto vai fazer com que as mulheres tenham mais espaços em outras áreas também, porque nós mulheres temos condições de criar e inovar, com nossa percepção diferente.

 

EU GOSTO DO MEU TRABALHO DE PROFESSORA… porque é maravilhoso ver as pessoas aprendendo, crescendo e se desenvolvendo. Tenho alunos/as hoje que são doutores/as, chefes de departamento, etc.

Prof. Anna Cristina Carvalho (FATECs – Itaquera e São Bernardo do Campo):

É muito gratificante ser professora na área de Engenharia de Produção. Acredito que a educação é uma ferramenta transformadora. Não trocaria de forma alguma minha profissão, mesmo enfrentando preconceitos e desafios. É isso que eu gosto de fazer!

COOL TALKS – Por Susana Ferraz, jornalista, consultora de comunicação integrada da GIZ_PBH (Sete Estrelas Comunicação).

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