POR FAVOR, FALE UM POUCO DA SUA CARREIRA NA ÁREA DE REFRIGERAÇÃO E CLIMATIZAÇÃO NA INGLATERRA?
Eu entrei na Força Aérea Britânica (Royal Air Force) aos 17 anos e meio. Inicialmente, fiz uma formação em técnico de engenharia de Aeronaves (Airframe), de quatro anos e, na sequência, comecei a trabalhar na manutenção de todos os equipamentos das aeronaves, inclusive da parte de refrigeração. Desenvolvi carreira, atuando durante 19 anos como técnico de aeronaves e cheguei ao cargo de supervisor. Ao final da carreira, era instrutor de pilotos, orientando sobre todos os equipamentos de uma aeronave.
Quando sai da Força Aérea, aos 41 anos, resolvi atuar como autônomo, como técnico de manutenção de aparelhos de ar condicionado. Logo em seguida fui convidado a ser instrutor da área de refrigeração, inicialmente em uma empresa e, depois, em uma escola. Pouco tempo depois, decidi optar por abrir minha própria empresa e ser consultor da área (função de exerço há 13 anos). Foi a melhor coisa que fiz! Eu deveria ter feito isso antes!
COMO CONSULTOR E INSTRUTOR DE RAC, FALE DE ALGUMAS DE SUAS EXPERIÊNCIAS RECENTES PELO MUNDO?
Estive, recentemente, por exemplo, na Tailândia. O projeto deles estava concentrado em utilizar hidrocarbonetos em sistemas de ar condicionado do tipo split. Todo o treinamento foi focado na inflamabilidade do produto. Lá, apesar de ser muito organizado, a instalação não chegava aos pés das que vi aqui (Escola Senai Oscar Rodrigues Alves). Também estive no Quênia e lá o escopo do meu trabalho foi totalmente diferente, prestando consultoria para entidades da área de engenharia. O objetivo delas era definir uma qualificação mínima para registrar engenheiros da área de refrigeração e, tambem, criar um tipo de cadastro. Também tenho feito consultoria para elas, com objetivo de padronizar a linguagem de entidades/empresas certificadoras.
COM TODA SUA EXPERIÊNCIA, COMO FOI TRABALHAR COMO CONSULTOR INTERNACIONAL NO “TREINAMENTO DOS TREINADORES DOS CURSOS DE BOAS PRÁTICAS PARA MELHOR CONTENÇÃO DO HCFC-22 EM SISTEMAS DE AR CONDICIONADO DO TIPO MINI-SPLIT E JANELA”?
Foi excelente. Todos me receberam muito bem. Todos foram muito amáveis. E os treinamentos ocorreram muito bem. Todos querendo ajudar. Todos querendo ouvir e aprender. O que eu pude perceber dos instrutores técnicos brasileiros, durante meu trabalho nestes treinamentos, é que o principal desafio que eles têm é conseguir as ferramentas mais avançadas aqui, mas são muito dedicados. Os instrutores-técnicos (que participaram das duas turmas de treinamentos) são muito bons e têm grande entusiasmo pela área.
VOCÊ REALIZOU UMA VISITA TÉCNICA NA ESCOLA SENAI OSCAR RODRIGUES ALVES, ONDE FORAM IMPLEMENTADOS OS TREINAMENTOS. O QUE ACHOU DA ESCOLA, EM COMPARAÇÃO COM OUTRAS QUE CONHECE NO MUNDO?
Fiquei impressionado com a estrutura excelente que vocês têm, talvez as ferramentas poderiam ser melhores. Mas, em geral, é excelente. Nós temos ótimas escolas de refrigeração na Inglaterra, mas que não chegam perto da estrutura desta escola. Elas são pequenas em comparação a esta. Achei esta escola muito completa. Ela tem uma variedade de equipamentos de refrigeração, que eu não conheci em nenhum outro lugar onde estive. É fenomenal. O único contraponto que, eventualmente, poderia ser mencionado é que alguns deles são relativamente antigos. Entretanto, conheci na Escola, por exemplo, uma instalação onde um condensador consegue refrigerar três câmaras frigoríficas. Esse é o tipo de instalação que eu nunca tinha visto em uma escola na vida.
ATUALMENTE, NA ETAPA 2 DO PBH, A GIZ COMEÇA A IMPLEMENTAR NOVOS TREINAMENTOS E CAPACITAÇÃO DE MECÂNICOS E TÉCNICOS DE REFRIGERAÇÃO PARA USO SEGURO DE FLUIDOS INFLAMÁVEIS EM SISTEMAS DE AR CONDICIONADO DO TIPO SPLIT. NA SUA VISÃO, QUAL A IMPORTÂNCIA DESTA INICIATIVA?
Primeiramente, observo que nestes cursos, para trabalhar com os fluidos refrigerantes inflamáveis, será necessário tomar todas as medidas de segurança durante os treinamentos. Dito isto, sem dúvida, um treinamento adequado é fundamental para garantir o uso seguros desses fluidos e a segurança dos técnicos. É fundamental reforçar que esses gases são muito eficientes. Eles são o futuro da refrigeração!
OS FLUIDOS REFRIGERANTES NATURAIS, EM ESPECIAL, OS HIDROCARBONETOS, JÁ ESTÃO SENDO UTILIZADOS EM GRANDE ESCALA NA EUROPA E EM OUTROS LUGARES DO MUNDO?
Na verdade, na Europa não. Eu dei um treinamento sobre fluidos refrigerantes inflamáveis na Tailândia. Lá eles usam em grande escala na climatização. Mas na Europa as indústrias químicas são muito poderosas e elas não querem que os hidrocarbonetos sejam usados, porque entendem que causariam prejuízos a elas. Mas, no final das contas, todos sabemos que seremos obrigados a utilizar os fluidos refrigerantes inflamáveis. Portanto, cursos como estes (do PBH) são importantes.
Na Inglaterra, por exemplo, oferecemos cursos como esse (de uso seguro de fluidos inflamáveis para sistemas de ar condicionado) e alguns técnicos fazem, mas ele não é compulsório e, por isso, a demanda de alunos não é alta.
EM TERMOS DE TECNOLOGIA, COMO VOCÊ AVALIA A REFRIGERAÇÃO NO BRASIL, EM COMPARAÇÃO À EUROPA?
Lá, a maioria dos equipamentos de ar condicionado são bem similares ao utilizados aqui no Brasil. Entretanto, o Brasil está um pouco atrás no que tange à tecnologia dos equipamentos disponíveis (e também das ferramentas). Lá é muito mais fácil e mais simples achar equipamentos de ponta do que aqui, mas estimo que o Brasil logo vai chegar neste estágio também.
POR FAVOR COMPLEMENTE AS FRASES:
Na minha primeira experiência com a refrigeração no Brasil, como consultor internacional, eu fiquei surpreso de quanto trabalho tem de ser feito para levar a área aos padrões modernos de tecnologia (mais acesso, mais capacitação).
A capacitação com tecnologia de fluidos naturais na minha visão é… muito importante para a proteção da Camada de Ozônio e do Clima.
ANTHONY ROY DARLOW, EM UMA FRASE:
“É muito importante o treinamento com fluidos naturais. Uma vez que, ao mudar para os fluidos naturais, além de diminuir a destruição da Camada de Ozônio, nós estamos atuando também para diminuir o efeito estufa e o potencial de aquecimento global.”
COOL TALKS – Por Susana Ferraz, jornalista, consultora de comunicação integrada da GIZ_PBH (Sete Estrelas Comunicação).
